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quarta-feira, 7 de março de 2012

O GRANDE AMOR DIVINO


A Bíblia hebraica narra o amor de Deus por Israel com três principais metáforas: paternidade, maternidade e esponsalidade.
Estas três imagens ressaltam a maneira como Jeová decidiu relacionar-se com os seus. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Deus de Moisés, livremente decidiu criar seres capazes de amar e se perceberem amados.
A paternidade divina se expressa na maneira como Deus cuida, repreende e se interessa pela maturidade de seu povo, que precisa tornar-se construtor responsável da história:
“Também, no deserto vocês viram como o Senhor, o seu Deus, os carregou, como um pai carrega seu filho, por todo caminho que percorreram até chegarem a este lugar. Apesar disso, vocês não confiaram no Senhor, o seu Deus, que foi à frente de vocês…”  Deuteronômio 1.30-31.
A maternidade divina se expressa nos sentimentos mais viscerais de Jeová pelo seu povo. Jeremias 31.20 narra Deus sentindo suas vísceras fremindo por Efraim.
E o Salmista se percebeu numa relação maternal quando afirmou que era “como uma criança desmamada nos braços de sua mãe” – Salmos 131.2.
A esponsalidade revela o amor de Deus como numa aliança conjugal – “Traíram o Senhor, geraram filhos ilegítimos” (Oséias 5.7)
“Vi uma coisa terrível na terra de Israel. Ali Efraim se prostitui…” (Os 6.10).
“Como posso desistir de você, Efraim?” (Os 11.8)
Jeová se compara a um marido traído que se mantém fiel, mesmo quando a mulher o machuca.
Abraham Heschel diferenciou o Deus de Israel ao Deus da filosofia afirmando:
“O Deus dos filósofos é como a ananke grega, desconhecido e indiferente para o homem; pensa, mas não tem palavras; é consciente de si mesmo, mas esquece o mundo. O Deus de Israel, pelo contrário, é um Deus que ama; é um Deus conhecido pelo homem e que se ocupa do homem. Ele não só governa o mundo com a majestade de seu poder e de sua sabedoria, mas reage intimamente aos eventos da história. Ele não julga as ações dos homens com impassibilidade e distância; seu julgamento está impregnado pela atitude daquele ao qual essas ações lhe interessam intima e profundamente. Deus não se mantém fora do raio do sofrimento e da dor humanos. Ele é pessoalmente envolvido, até mesmo influenciado pela conduta e destino do homem.”
Portanto, a Bíblia hebraica não considera que Soberania como um conceito que descreve Deus agindo e dispondo o mundo de acordo com seus próprios critérios. Soberania na Bíblia, tem mais a ver com a fidelidade divina de não desistir de amar e continuar interpelando seus filhos rebeldes para que se voltem para si. Mesmo quando Israel lhe deu as costas, Deus, teimosamente, insistiu em continuar amando.
Essa soberania lhe custa muito caro. Isaías chegou a afirmar que Deus experimenta dores agudas, como de parto, esperando um novo futuro para seu povo:
“Fiquei muito tempo em silêncio, e me contive, calado. Mas agora, como mulher em trabalho de parto, eu grito, gemo e respiro ofegante.” Isaías 42.14.
Portanto, a Bíblia não declara que Deus é amor como um chavão religioso. Nesta frase há desdobramentos profundos que precisam ser refletidos até às últimas conseqüências.
Soli Deo Gloria.
(Pr Ricardo Gondim)

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