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domingo, 29 de maio de 2011

AQUI E AGORA
No evangelho de Lucas temos o relato de Jesus ouvindo uma linda melodia no único lugar onde ela verdadeiramente acontece: aqui e agora. “Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas” (21:1-2). A música produzida pela modesta contribuição da viúva penetrou a alma de Jesus. O momento presente não era uma fenda estreita entre o ontem e o amanhã. A expressão “estando Jesus a observar” joga luz sobre a pessoa de Cristo, ressaltando Sua plena atenção ao momento presente, Sua vigilância, consciência, sensibilidade e percepção.
A certeza inabalável de que o momento presente não é só um caminho, mas o caminho que leva à comunhão com Deus, nos faz saber que nossa conversão dá em nada se deixarmos de buscar a Deus aqui e agora.
É lógico que uma presença ininterrupta e inflexível a cada momento é algo física e psicologicamente impossível. De fato, não é nem aconselhável que seja assim. Ninguém prepararia o jantar, os aniversários não seriam comemorados, notas escolares não seriam aplicadas, não se fariam declarações de imposto de renda. Uma previsão ponderada de compromissos e obrigações do futuro é um comportamento responsável, contanto que não seja uma fuga compulsiva do aqui e agora.
É através da imersão nas coisas corriqueiras – as experiências aparentemente vazias, triviais e sem significado de um dia de rotina – que a vida/VIDA pode ser encontrada e vivida. Viver de verdade não tem nada a ver com palavras, conceitos e abstrações, mas com a experiência do que ou de quem está logo diante de nós, essa experiência exige que não sejamos ensimesmados.
Lavar a louça com atenção tem tudo a ver com oração, e o mesmo acontece com a alegria de comer – ou com escrever um memorando, ou aparar a grama, ou ajudar o filho com as tarefas da escola. “Orai sem cessar”, nos diz a Bíblia, e “em tudo daí graças” (1Ts 5:17-18). E o que devemos agradecer a Deus? A comida de amanhã? Não, mas o sacramento do momento presente, o qual está a transbordar com riquezas incalculáveis, muito mais do que conseguimos possuir. Viver no momento presente requer que acreditemos profundamente que a vida abundante prometida por Jesus pode ser vivida apenas aqui e agora.
Olhar sem pressa para uma flor, contemplar uma criancinha que dorme, fazer companhia sem críticas para uma pessoa que amamos e que está sofrendo são atos que, como num passe de mágica, despertam sentimentos marcados por gentileza para com os outros e para conosco.
O compromisso de viver em vez de fugir do dom da vida é competência especial das crianças. Elas funcionam numa plataforma completamente distinta, o tempo, da forma como o conhecemos, não existe para elas. Seu dom, porém, começa a secar quando insistimos: “Rápido com isso, eu tenho mais o que fazer!”.
A boa notícia é que a criança que está dentro de nós pode ser recuperada. Isso pode acontecer agora mesmo, bastando apenas algo simples como brincar com uma criança ou caminhar devagar pela rua, ouvindo a música do que está acontecendo. “…se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças…” Mt 18:3
(Brennan Manning, em “CONFIANÇA CEGA”)

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